segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A filha da mendiga tinha uma tatuagem

É. Isso mesmo.

Estava eu subindo a Avenida Angélica e parei no semáforo diante do Pão de Açúcar. Para quem  não é de São Paulo ou não conhece a região, aquele bairro é de classe alta. Inclusive, este mercado seria demolido para dar lugar à construção de uma estação de metrô e uma moradora reclamou que iria trazer "gente diferenciada" para o bairro. O Metrô eventualmente desistiu de fazer a estação ali, apesar do protesto sobre o protesto.

Donc, a questão é que naquela calçada estavam sentadas uma senhora pedinte e duas meninas aparentando uns 8 e 13 anos. A menina mais velha tinha uma bela tatuagem colorida acima do tornozelo, acho que era um passarinho com umas coisas em volta. Aquilo chamou minha atenção e me fez pensar sobre diversas coisas:

  • Qual a história daquela mulher, que não tem como sustentar a família?
  • O que aconteceu com o pai das meninas?
  • As meninas são mesmo dela?
  • Era meio-dia. Estas meninas não deveriam estar na escola?
  • Onde elas moram? Será em uma casa em um bairro distante ou debaixo de alguma ponte?
  • Porque escolheram aquela esquina? Como chegam lá?
  • Como alguém aceita tatuar uma mendiga?
  • Como ela fez para não ter infecção?
  • Finalmente: Como alguém que não tem o que comer paga centenas de reais em uma tatuagem?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Bicicleta em São Paulo - parte II

Precisei novamente fazer o percurso casa -> cartório -> contabilidade. Desta vez criei coragem e amarrei a bike em lugares públicos.

No cartório foi mais tranquilo: Existe uma rampa com um corrimão de aço bem grosso. Deixei a bike no alto da rampa na quina com a parede, onde não atrapalhou a passagem. Além disso, sempre fica gente junto às motos e, ainda por cima, a parede do cartório é transparente e dava para ver a bike o tempo todo enquanto eu esperava minha vez.

Na contabilidade foi um pouco mais tenso: Amarrei em uma "gradinha de árvore", em falta de coisa melhor. Do outro lado da árvore tinha uma mulher conversando com um mendigo. O centro de São Paulo é um lugar bizarro. A mulher não parecia mendiga e o papo não era de assistente social. Ou eu sou preconceituoso devido ao fato do único assunto que os mendigos falam comigo é "Me dá um dinheiro?".

Quando fiz universidade, muita gente usava bike para ir ao campus. Embora todo mundo amarrasse a bike com cadeado e corrente ou cabo de aço, havia um número enorme de roubos. Um dia, uns alunos pegaram um rapaz serrando uma corrente. Foi juntando gente e começaram a bater no ladrão até que o pessoal da segurança chegasse. Por pouco o sujeito não foi linchado.

Não sei como é a relação de oferta e demanda de bicicletas roubáveis em São Paulo (Alguma ideia, Fábio?). Talvez dê muito trabalho roubar uma bike no centro e levar até o ponto de revenda. Talvez o policiamento ostensivo faça não valer o risco naquela região.

Para estacionar a bike, entra em cena a psicologia das multidões: Quando estamos em uma multidão, perdemos um certo medo das consequências.  Esta multidão pode ser conceitual, como no caso do "todo mundo faz". De forma geral, ao redor do mundo onde vi bikes usadas em grande escala, os ciclistas são extremamente "caras-de-pau" para estacionar, ou seja, amarram a bike qualquer lugar. Por exemplo: Em Barcelona, havia uma bike amarrada em um poste a 1 metro da entrada da escada para o metrô. A bicicleta caiu com a chuva forte e ficou atrapalhando todo mundo passar. No centro histórico de Amsterdã tem bicicletas amarradas em todo lugar amarrável, literalmente. Não dá para encostar em uma cerca de metal pois sempre tem bikes junto dela.

Já em São Paulo, não cola muito este estória de "todo mundo faz" já que há pouquíssimas bikes amarradas em público. Portanto, as pessoas não estão cansadas de dar esporro em ciclistas folgados (eu). Eu poderia ter tomado um no cartório.

Com se diz por aqui, o negócio é "tentar a sorte, certo?".

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dia cinza

Hoje amanheceu chovendo e está assim a maior parte do dia. Não é uma chuva de verdade, é mais próximo de uma garoa, aquela coisa chata que não deixa a rua secar. Está tudo cinza e triste.

Hoje eu também estou cinza. Desde que eu comecei a procurar emprego eu ainda não tinha tido um dia realmente down. Todo mundo em algum momento se questiona se tomou a decisão certa e hoje é a minha vez.

Estranhamente, o motivo é ter recebido uma proposta de emprego. A questão é que a proposta não é tão boa quanto eu gostaria, mas é na área que eu gostaria de atuar. Será que estou pedindo um salário alto demais? Fiquei de dar uma resposta e, uma hora depois, fui chamado para um processo seletivo em uma multinacional. Fiz as entrevistas,  com o RH e com o gestor da vaga, e estou esperando uma resposta. O trabalho é em algo legal, bastante diferente, mas não é na mesma área que eu tinha focado minhas buscas de emprego. A questão é que enquanto participo do processo da segunda, fico enrolando a resposta da primeira e corro o risco de perder a vaga.

Minhas alternativas são:

1 - Aceitar a  proposta da primeira empresa, desconhecida, acumular experiência recente na tecnologia que pretendo procurar emprego lá, mas ganhar menos do que pedi;

2 - Torcer para entrar na segunda empresa, multinacional mundialmente famosa, mas trabalhar com algo que não será meu foco de busca de emprego lá;

3 - NDA. Continuar procurando algo nos moldes da primeira empresa, mas com um salário mais alto;

Entre as alternativas 1 e 2, fica a pergunta: O que é mais importante, quando eu chegar lá: A referência da experiência certa em uma empresa desconhecida ou a referência em uma empresa renomada em algo que não será utilizado na vaga?

Pra piorar, hoje eu li um post sobre mim escrito com um tom que eu realmente não merecia. Será que eu não presto nem como profissional nem como família?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Protocolo e reconhecimento de firma

Ouvi dizer que cartório é uma herança da nossa colonização ibérica.

Acabei de ler um post sobre a entrega do processo federal no consulado e o autor queixou-se que não recebeu um protocolo de recebimento.

Será que, como povo, somos tão desonestos? O reconhecimento de firma atesta que a assinatura não é falsa. O protocolo, que a solicitação realmente foi efetuada.

Sentiremos falta disso? Conseguiremos viver sem "número do protocolo"?

Hoje eu li uma expressão na revista Veja usada pelo Sr. Roger Noriega: "... a América Latina tem baixa capacidade de aplicação das leis."

domingo, 6 de novembro de 2011

Parques urbanos

Em resposta ao meu post sobre bicicletas, a Vida comentou que também tem medo de correr nos parques por aqui. Acho que este assunto também merece um post.

Em Montreal, além dos grandes parques, como Mont-Royal e Angrignon, é comum ter pequenos parques espalhados pelos bairros. Lembro de ter passado por um em Westmont, mas basta olhar os "quarteirões verdes" no Google Maps. Em Ottawa tem uma espécie de parque margeando o Canal de Rideau. Em Ville de Québec há o Battlefield Park.

Em São Paulo temos vários bons parques mas acho que são dispersos e poucos, proporcionalmente à população. Outro problema é chegar neles. Nenhum dos grandes parques é acessível por metrô. Normalmente são difíceis de estacionar e/ou há flanelinhas pedindo "para olhar" seu carro. Quando se estaciona fora do parque e não há flanelinha, corre-se o risco de roubarem seu som, ou seu carro. No Ibirapuera, o estacionamento passou a ser cobrado pois estava muito difícil de achar uma vaga (lógica contestável).

Além de tudo, há aquela cadela chamada Trânsito. Gastar 1:30 de condução ou 0:45 de carro para chegar em um parque desanima qualquer um. Enquanto em Ville de Québec as pessoas saem do trabalho às 17:00 e às 17:30 estão em algum lugar fazendo outra coisa, em São Paulo elas estão até as 19:00 no congestionamento.

Quanto à segurança, acho que alguns parques são seguros nos horários de maior movimento. Muitos parques  públicos tem dezenas de seguranças ou policiais vigiando. Mas há também exemplos como o Parque Ecológico do Tietê, onde eu nunca correria sozinha se fosse mulher. Mas a Vida está certa: O problema não são os parques, mas a sociedade violenta em que vivemos.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Bicicletas no Canadá e medo em São Paulo

Nos últimos anos, trabalhei em uma forma de contratação "cinzenta" denominada "PJ", ou seja, eu tenho uma "empresa de eu mesmo" que "prestava serviços" para meu ex-contratante. Como não vou mais trabalhar neste formato, iniciei o processo de fechamento da empresa.

Hoje tive que ir ao cartório para reconhecer firma e à empresa de contabilidade para entregar este documento. Como o dia estava bonito, estou desempregado e adoro pedalar, fui de bike. A idéia era amarrar a bike em frente ao cartório mas, na hora H, não tive coragem.

Eu sei que foi pura paranóia, já que tinha vários motoboys no estacionamento, mas não consegui. Acha que uma vida inteira em São Paulo me deixou traumas demais:

  • Quando eu era criança, meu maior medo era ter minha bicicleta roubada. Um dos meus irmãos teve a bicicleta roubada na porta do supermercado. Um dia, entrou um sujeito no quintal de casa de madrugada e roubou a bicicleta de meu outro irmão. Meu sobrinho teve a minha bicicleta roubada com coronhada na cabeça.
  • O carro do meu pai foi roubado de mim em um dia que fui comprar um jornal para procurar emprego ;(
  • Já fui assaltado 5 vezes
  • Meu carro foi arrombado (porta amassada) para levarem o aparelho de som.

Em São Paulo existem estacionamentos de bikes onde ficam "menores aprendizes" olhando as bikes, portanto acabei parando lá.

Na minha recente viagem ao Canadá vi grande uso de bicicletas. Agora que fui procurar umas fotos, notei que EM MUITAS fotos tem alguém passando de bike.

Montreal:
As pessoas normais usam, não só os loucos.

Paraciclo - Centro

Paraciclo - Rosemont

Paraciclo - Metrô Vendôme


Paraciclo - Porto

Bike amarrada na árvore

Vi pela cidade inteira bicicletas amarradas em qualquer coisa.

Ottawa: 
Paraciclo mais "formal"

Este modelo de paraciclo é bastante comum no centro de Ottawa.

Mas lá também amarram em qualquer coisa. Não visitei fora do centro.

Ville de Québec:

Paraciclo - Marché du Vieux-Port

Lá também tem bikes amarradas.

Um dos motivos porque quero me mudar para o Canadá é poder ter menos medo da violência. Sei que lá roubos de bicicletas também acontecem, mas acredito que seja bem menos frequente.